terça-feira, 14 de setembro de 2010

Mais uma vez ouvi falar mal da cidade. Em parte, os comentários tinham fundamento, tenho de admitir. Mas também foram proferidos por gente de fora, que não tem raízes cá e tem o coração a olhar para longe, de onde vieram. Mas dói... Embora a nossa casa seja, de facto, onde o nosso coração se sente em paz, ela também é onde podemos e temos de estar num determinado momento das nossas vidas. Às vezes não é escolha nossa, outras é mas apenas por um tempo, mas independentemente das razões, olhar para os aspectos positivos do que nos rodeia acho que não faz mal.

Uma das razões apontadas foi o facto de não haver nada para ver nem haver nada a acontecer. E de ser uma cidade parada. Pequena. Mal cuidada e aproveitada. Pode até ser nalguns aspectos, mas ponho-me a imaginar se, quem diz isto, tivesse de morar no campo.
Como será acordar todos os dias com a mesma paisagem, com toda a ausência de acontecimentos culturais e falta de espaços comerciais? Como será acordar todos os dias ao som dos passarinhos, ouvir os cães a ladrar, adormecer com os grilos, ter dificuldade em dormir a sesta por causa do canto das cigarras, sentir o cheiro da terra molhada e da erva orvalhada, sentir o cheiro das árvores a dar fruto, ver o brilho do sol por entre as folhas e a esbater-se nas flores coloridas, ouvir o silêncio e ouvir assim o próprio coração, poder pescar no rio e refrescar os pés por baixo da água que corre em cima das pedras, apanhar musgo no inverno com as crianças para assim enfeitar o presépio, conhecer todo o tipo de bichos e perceber que as crianças crescem um palmo cada vez que se deparam com os que já conhecem só dos livros ou da televisão, poder descansar numa espreguiçadeira rodeado de calma, poder comer numa mesa cá fora?
Sem dúvida alguma, o lugar adequado para a criatividade e para todo um jorrar de actividades que preenchem a vida. Porque viver num lugar pequeno e parado, depende de como os nossos olhos o vêem, grande parte das vezes.
Claro que é bom ter tudo à mão, a um saltinho de casa. É muito prático, sim. Mas penso que, conseguir viver num sítio assim, longe do curso normal dos nossos dias, em que tudo é correria e concorrência, cansaço e insatisfação, carreira e ambição, é ter ganho na alma. Porque o verdadeiro prazer nasce de dentro, das coisas simples e eternas. O resto, são circunstâncias da vida, mais ou menos boas, mas exteriores a nós e que não afectam a estrutura de quem vive com o deleite de quem já tem a paz.

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