terça-feira, 30 de novembro de 2010

O meu mês está a chegar

Dezembro... Não sei como não nasci em Dezembro. Acho que é mesmo o meu mês.

Chuva, frio, verde, luz acolhedora, sol brilhante, gotas de orvalho, geada. Gorros, cachecóis, luvas, casacos, meias de lã. Lareira, castanhas, conversas calmas, cobertores quentinhos, chocolate quente, café, chá...

Natal! O Natal. Os preparativos, a decoração, a Árvore, a consoada, o Bolo-Rei, as felhoses-velhoses-beloses-o que queiram, os junquilhos em forma de flores, os coscorões, as rabanadas, o polvo, o bacalhau grosso, as couves, o cabrito, a roupa velha...
O aconchego, o riso das crianças, as conversas dos adultos. O recolhimento, o espírito que se eleva. As velas acesas, o calendário do advento, as prendas feitas com carinho e oferecidas com amor.
E Jesus. Sabemos lá qual foi o mês em que Ele nasceu, mas escolhemos celebrá-lo em Dezembro. É por Ele que nos juntamos e que todos os bons valores de que se fala nesta época fazem sentido. É por isso que Natal é quando o Homem quer, e quisesse ele que fosse todos os dias! Afinal, se Deus entendesse que o que nós mais precisamos é de dinheiro, Ele ter-nos-ia enviado um economista. Se de boa aparência, um esteticista. Se de boas casas, um construtor. E por aí fora. Mas Ele entendeu que a nossa maior necessidade era interior, era elevada ao nível da felicidade, da paz, do amor, da misericórdia, da alegria, do altruísmo, da esperança, da vida eterna. Por isso nos enviou o Salvador. Para nos reconciliarmos com nós próprios e com os outros.
Será que alguém pensa nisto nos dias que correm?


domingo, 28 de novembro de 2010

Dia em cheio

Depois do trabalho, que foi só de manhã, ontem, fomos buscar as primas para almoçar.
A casa estava em pé de guerra, enquanto eu fazia o almoço. Nunca vi uma diferença de 7 anos de idade esbater-se tão bem como com estes três. Admiro-me com isso sempre que os vejo juntos a brincar. Como diria uma amiga, há mistério nos laços familiares...

Depois do almoço fomos à Mata. Sempre linda. Mesmo com frio e com poucas folhas. As brincadeiras a inventar são sempre muitas e as risadas sem fim. Adoro rir com eles. Rir a bom rir. E depois repetir as piadas já sem graça só para continuar a rir assim. E nós rimos, mesmo que ninguém ache piada, mas também não importa nada.

Vimos tapetes de vegetação, árvores com musgo, fontes secas, caminhos trilhados, famílias a passear, pessoas a correr, pedaços do castelo, um tractor a cair de velho mas tão bonito assim, vimos tanta coisa e fizemos tanta coisa nesta tarde.







Depois ainda fomos passear pela Corredoura, que já estava iluminada para o Natal e cheia de músicas pelo ar, misturadas com o cheiro das castanhas. E frio, muito frio, já com direito a sair fuminho pela boca e cada um a fazer figura mais triste que o outro, de boca aberta e lábios em bico a tentar fazer a fumaça maior.


sábado, 27 de novembro de 2010

Que manhã...

A poucos passos da minha casa, tenho este pedaço de campo. Que privilégio. Que bom é estar aqui, inspirar com força e sentir o ar frio a invadir o corpo, a revigorar e a pôr as ideias no lugar. E piscar os olhos diante de sol tão forte e de verde tão intenso. Que manhã tão bonita, tão sem necessidade de palavras... Só louvor.







sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Encontro com a solidão

Durante estes anos de trabalho, fazendo inquéritos, sou eu a ir ao encontro das pessoas, muitas vezes tirando-as do seu sofá ou distraindo-as dos seus afazeres. Muitas histórias teria eu para contar, todas de índole humana. Pessoas que passam ao lado de muita gente sem ninguém dar por elas, mas cheias de histórias ricas, algumas tristes, outras com capacidades e habilidades de artista e que quase ninguém conhece.
Mas a história de ontem é diferente. Não fui eu a ir ter com ninguém, foi alguém a vir ter comigo. Estava eu a fazer um intervalo num dos cafés do costume e comia qualquer coisa enquanto adiantava a parte escrita do meu trabalho. Entrou um senhor no café. Um ar normal. Um pouco escuro o que ele transmitia, mas ainda assim normal. Passeou pelo café, olhou para mim, pediu licença para falar comigo, e eu fiquei sem saber o que dizer. Se era para os peditórios do costume, eu estava ali a trabalhar e não queria ser interrompida.
Mas não. O senhor só queria mesmo era falar. Ele foi falando, chorando de vez em quando, falando e falando. Não era louco. Sabia muito bem o que sentia e em que situação estava. "Sinto-me sozinho, sinto-me triste, às vezes sinto-me esquizofrénico." No entanto, na aparência, e a acreditar em tudo o que possuía, era uma pessoa abastada. Mas sozinho.
Senti-me tão impotente. Mas ele só queria falar. E olhava para mim, fundo nos olhos. Falei-lhe umas palavras de encorajamento, ainda lhe falei de Deus, mas senti-me impotente na mesma. De que vale falar de Deus a um esfomeado se não lhe der um pedaço de pão? Só depois da barriguinha cheia é que ele poderá ter ouvidos para ouvir sobre tão grande amor. Este senhor precisava de muito mais do que eu lhe consegui dar, é a verdade.
Foi mais uma situação que me marcou. Vim para casa pensativa. O que pensei ainda está em processo. É cedo para pôr em palavras. O que escrevi foi meramente factual. Para que conste. Para que não se esqueça que somos muito pouco neste mundo e que, sozinhos, somos menos ainda. Para que olhemos para os outros com todo o respeito, porque cada um encerra dentro de si um mundo infinito. E que, se o descobrirmos, muitas acções que às vezes até são condenáveis, acabam por ter uma explicação. E aprendemos a entender, a respeitar, a aceitar, a amar e quem sabe, com esse amor, ajudar a mudar para melhor.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Presépio

Estávamos a passear por uma loja de um centro comercial onde haviam cabanas para presépio já feitas. Claro que a carraçinha lhes piscou o olho. Tão bonitas, muito mais giras que a caixa de cartão que usámos o ano passado. Então e se fizéssemos uma em casa do avô? Boa ideia! E o avô, que adora fazer estas coisas, só pediu ajuda para segurar as tábuas. E com pedaços de madeira velha se faz uma cabana. Ei-la, para albergar o menino Jesus, a Maria, o José, a vaquinha e o burrinho, este ano. Uma limpeza, e fica como nova! Agora é esperar pelas primas para, todos juntos, irmos à Mata buscar musgo para a forrar e lhe dar um ar mais rústico. Foi tão bonito participar.




segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não me canso

Os sítios poderão ser quase sempre os mesmos. Mas são sempre diferentes. Porque a luz é diferente, a cor das árvores é diferente, o cheiro é diferente, o vento faz a água diferente consoante lhe apraz, os patinhos vão crescendo. As estações vão marcando o seu ritmo. Tudo passa, fazendo com que o mesmo permaneça diferente. E, mais importante que tudo, tudo muda quando os olhos do coração estão atentos.
Uma boa semana para todos, cheia de surpresas felizes.




sábado, 20 de novembro de 2010

E hoje...

Choveu muito de noite. De cada vez que acordei, lá estava ela a cair. Que embalo... Quentinha na cama, sabia bem estar ali a ouvir a terra a ser regada.
E hoje de manhã estava assim. Apesar de não ter sido a noite mais fria, havia uma ligeira brancura na erva verdinha. Estava frio. Mas a luz do sol tentava aquecer a terra e era preciso piscar os olhos para conseguir ver com alguma clareza. Adoro as manhãs.



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Hoje


Se há coisa que adoro, é trabalhar com este tempo. Nublado, fresco, verde. O fumo que sai das chaminés invade o ar e mistura-se com as nuvens baixas. O cheiro é aconchegante. Em cada aldeia, uma igreja, cujo sino troa pelos ares. Em cada lugarejo, um café central, onde as pessoas se juntam em busca de calor e alimento e reclamam do tempo. É tão inspirador...








quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tomar by night


Não são fotos de qualidade, com uma boa máquina, com ângulos perfeitos, com a luz ideal. São fotos de uma noite em família. Uma noite fria, dolorosa, mas uma noite em que se valoriza o que temos e o que temos ainda é muito. Uma noite em que, apesar das diferenças e das distâncias, dos passados e dos presentes e dos futuros que se desenham, a palavra família ainda faz sentido e muda vidas. Uma noite. Ao jantar. A mesa era comprida e a carraçinha encontrou os meus olhos e mais ninguém ouviu: "Somos muitos, mamã." E depois fomos passear no frio. Com os corações aquecidos.