sábado, 12 de outubro de 2013

Vida... a minha


Até aos 24 anos fiz um percurso de vida mais ou menos linear. Salvo algumas excepções, fiz aquilo que se esperava de mim. O meu trajecto escolar foi razoavelmente constante, fui uma filha que não deu grandes sobressaltos, tive os sonhos comuns a tantos jovens, tive amizades bonitas, fiz a universidade toda e até fiz um estágio profissional na minha área de estudo. Fim da história.
Fim da história em linha recta. Aqui começam as curvas. Curvas e contracurvas, lombas, estradas a direito, mais curvas, buracos, tempestades, oh estrada mais doida. Mas o curioso é que fui eu que escolhi o caminho. Tenho consciência disso. E mais curioso ainda é que não me arrependo. Virei as costas ao curso, virei as costas ao emprego bem remunerado e de carreira ascendente, virei as costas ao status, ao dinheiro, à aparência, ao ter... para abraçar o mundo em nome do meu crescimento interior. Gostaria de afirmar que isso fez de mim um ser humano incrível. Isso é que era bom, sempre tinha valido a pena a escolha. Mas sou uma comum mortal, perfeitamente anónima, praticamente indetectável no meio da multidão. Contudo, contrariamente à esmagadora maioria das pessoas que me conhece, tenho todo o orgulho nas minhas escolhas, ao ponto de dizer que, estando onde estou, e falo da fase da vida, prefiro lavar o rabinho a velhinhos do que estar atrás da secretária de um qualquer gabinete de um presidente qualquer. Porque, para mim, lavar o rabinho a velhinhos pode fazer-me chorar, mas faz-me sem dúvida mais humilde e mais humana do que estar na tal secretária. E isso para mim é muito mais importante do que qualquer status, ambição de carreira, conta bancária, etc. Estando onde estou, sinto-me muito mais forte e determinada, cada vez menos aberta à mediocridade e à vulgaridade. E o engraçado é que, sentindo-me assim mais forte, a verdade é que nunca me senti tão fraca. O que me leva a crer, na pele, que a minha fraqueza se aperfeiçoa na força de Deus e é daí que me vem o ânimo e o fôlego para prosseguir.
Sim, hoje deu-me para o devaneio, para escrever palavras ao sabor do cansaço, da visão turvada da falta de descanso e do entorpecimento das situações. Sinto-me esmagada e nada cor de rosa, mas que ninguém se assuste, que isto não é nada que não passe com umas boas noites de sono. Só me apeteceu escrever e deixar escrito que nem todas as nossas escolhas recolherão o louvor dos que nos rodeiam. Mas se formos nós próprios e se agirmos de acordo com a nossa consciência, recolheremos o amparo de Deus e esse testemunho interior é o que nos fará prosseguir caminho. E ainda que, contrariamente a tudo o que desejo agora, possa vir a terminar atrás da tal secretária do tal presidente, chegarei lá muito mais humana do que se tivesse percorrido a estrada direitinha que todos (ou quase) querem percorrer. O preço é elevado, mas o produto final é de excelência. Creio nisto.
(E que me perdoe se por aqui passar alguém que esteja no papel da "secretária do presidente". Escrevo isto em sentido figurado e de mim para mim.)
 

8 comentários:

  1. Vim retribuir a visita que fez ao meu blog e li o que escreveu! Na vida o mais importante é sermos honestos com os nossos príncipios e com as nossas escolhas... Tudo de bom para si! Manuela

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    1. É isso mesmo, Manuela. Um beijinho e uma boa semana para si.

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  2. Temos mesmo que acreditar e seguir.Lindas tuas considerações! beijos,tudo de bom,chica

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  3. Querida Margarida, bonito texto que escreveu, apesar de triste verdadeiro em cada palavra ...
    Concordo quando disse que nós é que escolhemos o caminho... e só nós decidimos para que lado caminhar ... Que o seu caminho seja sempre ao encontro da felicidade ...
    Beijinho

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    1. Obrigada, Paula. É bom encontrar quem nos entenda. Que o seu caminho também seja sempre ao encontro da felicidade. Beijo.

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  4. Oh minha Flor! ès mesmo esplendorosa! Eu queria estar contigo.
    Saudades

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    1. Norminha! Saudades! Tenho pensado tanto em ti e hoje parece que nos desencontramos mais uma vez, buáá. Beijos aos montes e espero que estejam bem.

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